Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Vacina contra a dengue é avanço, mas desmonte da SUCEN acende alerta entre pesquisadores

A recente divulgação da Butantan–DV — vacina de dose única contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan — foi celebrada em todo o país como um marco científico e sanitário. O feito, que reforça a capacidade do Estado de São Paulo em produzir soluções de alto impacto para a saúde pública, também trouxe à tona um alerta importante: o enfraquecimento da vigilância entomológica após a extinção da SUCEN.

As informações foram publicadas em reportagem de Rogério Bezerra, no Radar Democrático, e levantam preocupação direta entre pesquisadoras e pesquisadores da APqC (Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo).

Avanço científico convive com fragilidade institucional

Conforme destaca a reportagem, a Butantan–DV simboliza décadas de investimento público em ciência, pesquisa e produção tecnológica. O imunizante tem potencial para transformar o enfrentamento à dengue, doença que há anos provoca surtos, internações e mortes em todo o país.

No entanto, como lembra o jornalista, a vacina atua exclusivamente contra a dengue — e não impede a circulação de outras arboviroses transmitidas pelo mesmo vetor, como zika, chikungunya e febre amarela urbana. Por isso, a existência de uma estrutura técnica sólida para vigilância e controle do Aedes aegypti continua sendo indispensável.

É justamente nesse ponto que o alerta se intensifica.

Extinção da SUCEN compromete vigilância e capacidade de resposta

A reportagem lembra que a SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias), criada originalmente em 1970, foi por décadas a principal instituição de vigilância entomológica e controle de vetores no Estado de São Paulo. Foi responsável por laboratórios de referência, formação técnica, apoio aos municípios, levantamentos de infestação, ações de campo e suporte a políticas públicas de combate a diversas doenças — não apenas dengue, mas também malária, doença de Chagas, leishmaniose, febre amarela e outras endemias.

Com o decreto estadual de 2022 que extinguiu a autarquia e transferiu suas atribuições à Secretaria da Saúde, a reportagem registra que houve dispersão de equipes, desestruturação de laboratórios, suspensão de pesquisas e perda de capacidade operacional justamente no período em que mais se exige vigilância permanente sobre os vetores.

A APqC tem alertado, repetidamente, para esse impacto. A fragmentação das atividades e a perda de autonomia dos laboratórios regionais comprometem ações essenciais, como inspeções domiciliares, diagnósticos rápidos e resposta coordenada em momentos de surto.

Vacinar é fundamental, mas não substitui vigilância

Como reforça Rogério Bezerra, a contradição é evidente: de um lado, uma vacina historicamente importante e capaz de reduzir drasticamente a carga da dengue; de outro, a ausência de uma estrutura robusta de vigilância para combater o mosquito transmissor de várias doenças que continuam circulando.

A APqC destaca que não há política de saúde pública efetiva sem vigilância entomológica estruturada. A vacina deve ser parte de uma estratégia integrada — não um substituto para ações de campo, laboratórios equipados e equipes permanentes de controle vetorial.

APqC faz apelo ao governo paulista

A conquista representada pela Butantan–DV mostra o que o investimento público contínuo pode produzir. Por isso mesmo, lembra a APqC, é urgente que o governo do Estado de São Paulo reconstrua e fortaleça a estrutura que foi desorganizada com a extinção da SUCEN.

Se a prioridade é proteger a população, reduzir mortes evitáveis e evitar que novas epidemias de arboviroses se espalhem, é indispensável restabelecer a capacidade técnica e operacional que sempre marcou o controle de endemias em São Paulo.

A vacina é motivo de orgulho. A fragilidade da vigilância, motivo de preocupação.

E, como conclui a própria reportagem, “o êxito de hoje não pode se transformar na fragilidade de amanhã”.

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