Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Tarcísio diz que diploma “vale cada vez menos” e reforça desmonte da carreira de pesquisador

Durante evento realizado nesta quinta-feira (13) para anunciar a expansão do ensino técnico no estado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a desqualificar a educação superior ao afirmar que o “diploma tem cada vez menos relevância”. Segundo ele, o mercado estaria “menos interessado” na formação acadêmica dos profissionais e “mais atento” apenas às habilidades apresentadas.

A declaração, feita sem qualquer embasamento ou referência a estudos que sustentem tal afirmação, revela mais do que um simples diagnóstico sobre o mundo do trabalho: expõe a visão de um governo que trata a formação científica e universitária como acessório — e não como um pilar estratégico para o desenvolvimento do país.

A ironia é evidente. Tarcísio comenta a suposta perda de relevância do diploma justamente enquanto sua gestão aprofunda o desmonte das políticas públicas de educação e pesquisa. Não por acaso, é o mesmo governador que aprovou recentemente na Assembleia Legislativa o PLC 9, projeto que enfraquece a carreira de pesquisador científico ao desmontar garantias históricas construídas pela categoria. É também o chefe de um governo que, em vez de investir e fortalecer os institutos públicos de pesquisa — patrimônio científico de São Paulo — insiste em tratá-los como entraves e tenta empurrá-los para modelos de privatização e terceirização.

Ao afirmar que “a competência vale mais que o diploma”, o governador tenta naturalizar o abandono da educação pública. Como se a falta de investimentos, a precarização de infraestrutura e o corte de recursos não fossem responsabilidade direta do próprio Estado, mas sim um cenário inevitável em que caberia à população se virar sozinha para desenvolver suas “habilidades”.

Esse discurso ignora um fato elementar: quando o governo abre mão de seu papel, não é o mercado que sofre — é o estudante da periferia, que vê o acesso à formação de qualidade se tornar cada vez mais distante. Desqualificar o diploma pode ser conveniente para quem desmonta políticas públicas, mas não resolve as desigualdades que a educação deveria enfrentar.

Fácil é declarar que o diploma “vale menos”. Difícil — e raro na atual gestão — é investir de forma consistente para que todos tenham acesso a uma formação sólida, oportunidades reais e às condições mínimas que o Estado tem obrigação de garantir.

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