reação de pesquisadores, professores e entidades da sociedade civil à possibilidade de venda de parte da Fazenda Santa Elisa, em Campinas, segue forte e gerando desdobramentos. Um abaixo-assinado que vendo circulando por grupos formadores de opinião tem ganhado grande adesão.
Tudo começou com um processo de mapeamento e desmembramento da fazenda que pertence ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), referência nacional e internacional. Isso despertou nos cientistas a hipótese de venda.
A gleba envolvida na possibilidade de negociação tem 70 mil metros quadrados, o que corresponde a 1% de toda a propriedade. Mesmo sendo uma gleba pequena, a comunidade científica reagiu.
Incentivadores da ciência, como o empresário Luis Norberto Pascoal, proprietário da Daterra Coffee e um dos apoiadores do IAC, também se posicionou contrário à negociação.
De autoria da deputada Beth Sahão (PT), ofício endereçado a Guilherme Piai Silva Filizzola, secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, cobra explicações sobre o assunto. O documento está no Diário Oficial do Estado de São Paulo (clique aqui).
O Hora Campinas procurou a Secretaria Estadual da Agricultura para comentar o manifesto e a reação da sociedade civil, mas não obteve retorno.
VEJA O TEXTO DO MANIFESTO E SEUS SIGNATÁRIOS
Diante da declarada intenção do governo do estado de São Paulo de vender parte da área da Fazenda Santa Elisa, onde se encontram setores do banco de germoplasma de café e de macaúba, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), nós, abaixo assinados, somos contra essa venda e o resultado que isso pode acarretar nas pesquisas sobre o café e diversos outros temas de pesquisa, no meio ambiente e na economia do País e apelamos para o governador para que cancele os estudos realizados sobre a possibilidade dessa venda.
O Centro Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), historicamente conhecido como Fazenda Santa Elisa, é um centro de pesquisa voltado ao desenvolvimento agrícola do estado de São Paulo, com resultados que chegam à agricultura brasileira e mesmo mundial.
Nele, são feitas pesquisas pioneiras com a aclimatação de plantas de clima temperado às condições subtropicais e tropicais do estado, desenvolvimento de novas variedades de plantas resistentes a pragas e doenças e introdução de novas culturas agrícolas vêm ocorrendo ao longo de mais de um século de trabalho de seus servidores, pesquisadores e funcionários de apoio em campo e nos laboratórios.
Todo esse desenvolvimento da agricultura paulista – e brasileira – só é possível com a manutenção de um banco de plantas vivas para a experimentação, o teste e a seleção daquelas mais interessantes para o objetivo que se quer atingir. Nesse sentido, estão na Fazenda Santa Elisa coleções de plantas, ou bancos de germoplasma, de café, seringueira, plantas ornamentais, aromáticas e medicinais, bambu, árvores e palmeiras, entre outras.
Diante do cenário de mudanças climáticas e aumento das temperaturas, é estratégico tanto para a alimentação humana quanto para a economia o desenvolvimento de variedades que se adaptem às condições ambientais adversas. Assim, bancos de germoplasma variados e áreas para a experimentação são essenciais.
Portanto, considerando as questões elencadas, nós, abaixo-assinados, declaramos ser totalmente contrários à venda da Fazenda Santa Elisa, ainda que em partes, por entender que isso colocaria em risco as pesquisas científicas ali realizadas há décadas, comprometendo direta ou indiretamente questões de ordem econômica, científica e ambiental no estado de São Paulo.
Por fim, vale dizer que não existem áreas subutilizadas nas estações experimentais dos institutos de pesquisa, mas o sucateamento deliberado das suas estruturas conduzido nas últimas décadas pelos sucessivos governos estaduais. Faltam concursos públicos para recompor a equipe de pessoal qualificado dessas instituições e a sua devida valorização. Todo esse processo de desmonte do Estado se aprofunda na atual gestão, com sérias consequências para a sociedade. Dizemos não ao desmonte dos institutos públicos de pesquisa!
Assinam o manifesto
Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo
Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp)
Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp)
Associação dos Docentes da USP (Adusp)
Bahiji Haje, jornalista do Fórum das Seis.
Carlos Jorge Rossetto, pesquisador aposentado do IAC.
Flávia Maria de Mello Bliska, pesquisadora do Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ – IAC
Fórum das Seis Entidades
Fórum Socioambiental de Campinas
Gerson Silva Giomo, pesquisador Científico Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ – IAC
Gustavo Petta, vereador e presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia de Campinas
Helena Dutra Lutgens, presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo – APqC
João Paulo Feijão Teixeira – ex-diretor do IAC
Julieta Andrea Silva de Almeida, pesquisador Científico Centro de Café ‘Alcides Carvalho – IAC
Júlio César Mistro, diretor e Pesquisador Centro de Café – ‘Alcides Carvalho’ – IAC
Luís Carlos Guedes Pinto, professor titular aposentado da Unicamp, ex-ministro da Agricultura
Marco Antônio Teixeira Zullo – ex-diretor geral do IAC
Maria Bernadete Silvarolla, pesquisadora do Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ – IAC
Maria de Lourdes S. Da Costa, auxiliar de Apoio, Aposentada – IAC
Maurílo Monteiro Terra, pesquisador Científico aposentado do IAC, ex-Presidente da APqC, ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Fruticultura
Michele Schutz Ramos – presidente da Adusp
Oliveiro Guerreiro Filho, pesquisador Científico do Centro de Café Alcides Carvalho – IAC
Paulo Eduardo de Magalhães, técnico de Apoio à Pesquisa – Conselheiro da Associação dos Servidores do IAC.
Professora Bebel, deputada estadual
Ronaldo Hipólito Soares – ex-secretário de Serviços Públicos de Campinas (2002/2004)
Roseli B. Torres, pesquisadora aposentada do IAC
Sindicato dos Bancários de Campinas e Região
Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp)
Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU)
Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp)
Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps)
Solismar Venzke Filho, sócio proprietário da Rotar Crop Production System
Teresa Losada Vale – pesquisadora aposentada do IAC
Tiago de Lira – presidente do Comdema
Tuffi Bichara, produtor de cafés Especiais do Circuito das Aguas Paulista, Monte Alegre do Sul-SP
Wagner Romão – docente Unicamp
Fonte: Marcelo Pereira (Hora Campinas) / Foto: Divulgação