Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Trator da devastação ameaça o Instituto Butantan e a Mata Atlântica

Conforme denuncia a jornalista Cida de Oliveira, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aliado do bolsonarismo, deu mais um passo rumo à devastação da área verde do Instituto Butantan. Em substitutivo ao Projeto de Lei (PL) 691/2025, publicado nesta semana, o prefeito autoriza instalações industriais em todo o território do instituto, localizado ao lado da Cidade Universitária, na zona oeste da capital.

Na prática, a proposta abre caminho para:

  • Loteamento de todo o terreno;
  • Corte de árvores da Mata Atlântica, sob a alegação de que não estariam em estágio médio ou avançado de regeneração;
  • Legalização e ampliação de prédios problemáticos já em funcionamento, alvo de reclamações por ruídos;
  • Atividades industriais de alto impacto em área residencial;
  • Eventos e poluição sonora com ruídos de até 65 decibéis, índice previsto para zonas industriais.

Segundo o vereador Nabil Bonduki (PT), integrante da Comissão de Política Urbana da Câmara, a proposta é “inaceitável” e ainda pior que a versão aprovada em primeira votação em junho. Bonduki elaborou um substitutivo que permitia a expansão fabril sem destruir o bosque e a Mata Atlântica presentes no instituto, mas a Câmara não acolheu sua proposta.

Vacina sim, devastação não

O movimento SOS Instituto Butantan também repudiou a iniciativa, classificando-a como uma tentativa clara de viabilizar o Plano Diretor do Instituto Butantan, carregado de ilegalidades ambientais, urbanísticas e sociais. Para o movimento, a produção de vacinas é fundamental, mas deve ser realocada para uma área adequada, sem ameaçar um dos últimos fragmentos de Mata Atlântica na cidade.

Além disso, como lembra Cida de Oliveira, o próprio relatório de sustentabilidade de 2023 do Instituto Butantan reconhece o valor inestimável de sua flora e fauna. O documento destaca árvores centenárias como cedro-rosa e jatobá, além de dezenas de espécies de aves, répteis e mamíferos que encontram no local abrigo e alimento. Destruir esse patrimônio seria um crime contra a biodiversidade paulistana.

A contradição do discurso pró-vacina

A jornalista também chama atenção para a contradição política. Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador, são conhecidos por seu alinhamento com posições antivacina durante a pandemia. Hoje, em nome da “expansão da produção de vacinas”, defendem alterações na lei que abrem espaço para devastação ambiental e beneficiam interesses privados.

O governador Tarcísio, que já colocou o Instituto Butantan em lista de bens a serem vendidos em seu site de privatizações, mostra novamente que a saúde pública e a ciência não estão entre suas prioridades. O que se vê é um processo velado de privatização, em que a Fundação Butantan ganha espaço e recursos, enquanto o instituto público é enfraquecido, sem reposição de servidores e com salários defasados em relação a outros centros de pesquisa, como a Fiocruz.

Defesa do patrimônio público

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) se soma às denúncias apresentadas por ambientalistas, servidores e entidades da sociedade civil. O Instituto Butantan é patrimônio da ciência e da população paulista, e não pode ser usado como moeda política nem alvo de um projeto que ameaça a Mata Atlântica e a qualidade de vida dos moradores do entorno.

O que está em jogo vai muito além de prédios e fábricas: trata-se da defesa da ciência pública, da saúde coletiva e do meio ambiente. Vacinas, sim – mas com sustentabilidade, transparência e respeito ao interesse público.

Foto: Daniel Garcia/Adusp

Clique aqui para ler a matéria da jornalista Cida de Oliveira

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