Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Mulheres com doutorado têm remuneração 16,4% menor do que homens, aponta estudo

A igualdade nas remunerações entre pessoas com pós-graduação é, ainda, um dos grandes desafios do País. Este é um dos principais diagnósticos da pesquisa “Brasil: Mestres e Doutores”, divulgada pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) na última terça-feira (04/06). No comparativo entre as remunerações mensais de pessoas com doutorado, as mulheres recebem valores 16,4% menores do que os homens – essa diferença chega a 26,7% no comparativo entre pessoas com mestrado.

“A gente pode fazer todas as combinações de dados que quisermos e não tem jeito, as mulheres ganham menos que os homens em todas as grandes áreas do conhecimento [Linguística, Ciências Humanas, Ciências Exatas e da Terra, Multidisciplinar, Ciências da Saúde, Engenharias, Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Agrárias]. Também podemos fazer outras análises jurídicas dos empregadores e as mulheres ganham menos em todas as regiões do País”, explicou Sofia Daher, coordenadora no estudo, no evento de seu lançamento.

A pesquisa analisou os dados de formação e emprego dos 1.001.861 mestres e 319.211 doutores que se titularam no Brasil entre os anos de 1996 e 2021. Seguindo no recorte de gênero, as mulheres são as pessoas que mais se formam no Brasil: em 2021, corresponderam a 56,8% dos títulos de mestrado e a 55,6% dos títulos de doutorado.

“As mulheres já são a maioria entre os titulados no mestrado desde 1997 e no doutorado a partir de 2003. Mas o fato de haver uma maioria de mulheres sendo tituladas ao longo do tempo nem sempre repercute, infelizmente, no ponto de vista de emprego e de remuneração”, ponderou Daher.

Empregos crescem, mas empregabilidade cai

Outro tópico analisado pelo estudo foi a quantidade de mestres e doutores com empregos formais. No comparativo entre 2009 e 2021, o número de pessoas com o título de mestre empregadas cresceu 139%, já para pessoas com doutorado, esse aumento foi de 192,2%. A situação é mais positiva se analisada com o contexto econômico do País – os empregos para mestres e doutores cresceram de 5 a 7 vezes mais do que o total de empregos formais do Brasil no mesmo período, que foi de 26%.

Entretanto, apesar da série histórica da pesquisa mostrar uma alta dos empregos, a empregabilidade vem caindo nos últimos anos. Um dos tópicos do estudo é mensurar se as pessoas estão empregadas após cinco anos de suas formações. Nos casos dos mestres, em 2009, 73% tinham empregos formais, mas em 2021 esse valor caiu para 64%. Para doutores, o período também foi de queda: de 78% que estavam empregados, para 70%.

“Temos que discutir o porquê dessas quedas. Existem diversos fatores, mas, acredito eu, que um dos principais fatores é a Reforma Trabalhista que foi aprovada no Governo Temer (2016-2018) e que estimulou muito a chamada ‘pejotização’ e outras atividades informais”, ressaltou Eduardo Viotti, consultor do estudo.

Viotti também antecipou que o CGEE está preparando uma continuação da pesquisa, que visa a olhar para os mestres e doutores que são proprietários de empresas, com base nos dados da Receita Federal.

Regionalidade e políticas públicas

No início da pesquisa, em 1996, a região Sudeste possuía 62% dos cursos de mestrado do País. No comparativo com 2021, a participação da região foi reduzida em 20 pontos percentuais, que foram absorvidos proporcionalmente pelas demais regiões. Essa realidade se repete nos cursos de doutorado, com o Sudeste sendo sede de 79,2% dos programas em 1996, e diminuindo 29,6 pontos percentuais entre 1996 e 2021.

Segundo a diretora da SBPC, Fernanda Sobral, é importante que o Sistema Nacional de Pós-Graduação se desenvolva por todo o Brasil. “O Nordeste dobrou a sua participação nos programas de mestrado e doutorado. Claro, ainda não estamos no melhor dos mundos, mas é um crescimento relevante. Há anos, alguns estados não tinham um titulado no mestrado nem doutorado e, hoje, todas as unidades federadas têm programas. O estudo detalha a desconcentração regional que o Brasil vem passando e isso é muito importante.”

Sobral participou do evento de lançamento do estudo e ratificou também a importância de o País ter dados que dimensionem a realidade do ensino e pesquisa. “É da maior importância se ter estudos e avaliações para elaboração e aprimoramento de políticas públicas. E no caso da política de pós-graduação, ela é uma política bem-sucedida, porque tem planejamento, tem avaliação com participação da comunidade científica, e agora tem estudos que podem indicar caminhos para esse planejamento.”

O presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Ricardo Galvão, complementou o discurso da diretora da SBPC, destacando que o estudo ajudará na definição de projetos e programas que possam melhorar a realidade do acadêmico. “Nós não vamos ter no Brasil um desenvolvimento sustentável e socialmente justo se não tivermos políticas públicas fortemente embasadas em Ciência, Tecnologia e Inovação”, disse.

Galvão também aproveitou a oportunidade para destacar o papel da comunidade científica no avanço social e econômico do Brasil, em especial das entidades que há décadas lutam pelo desenvolvimento do setor. “Eu quero agradecer todo o esforço feito pelas sociedades científicas, começando pela SBPC, que está aqui com a nossa querida Fernanda Sobral, e pela ABC [Academia Brasileira de Ciências], que têm ajudado a promover a Ciência no País.”

A presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Denise Pires de Carvalho, também reforçou a importância desse tipo de pesquisa, que reúne informações concretas sobre o setor, para o cenário político. “Vamos continuar produzindo dados para que as políticas públicas possam ser implementadas e defendidas por nós”, concluiu.

O estudo “Brasil: Mestres e Doutores” está disponível na íntegra no site do CGEE.

Jornal da Ciência

Compartilhe: