Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Governo e sociedades científicas intensificam combate à desinformação sobre vacinas

Recentes medidas de autoridades brasileiras buscam enfrentar a propagação de “fake news” sobre vacinas, especialmente propagadas por profissionais de saúde em redes sociais. A Advocacia‑Geral da União (AGU), em conjunto com o Ministério da Saúde, notificou a Meta para remover postagens de três médicos que divulgavam informações falsas sobre imunizantes no Instagram e Facebook. A notificação pedia retirada dos conteúdos em até 72 horas — prazo que já expirou sem que todas as publicações fossem removidas.

Ao mesmo tempo, organizações científicas como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), em parceria com o Ministério da Saúde, emitiram uma carta conjunta repudiando a promoção da suposta “síndrome pós-spike”, usada por alguns para comercializar terapias sem base científica.

Pressão institucional e regulação ética

Para a SBPC, é necessária “responsabilização exemplar” dos profissionais que propagam desinformação — com possibilidade de abrir processos nos conselhos de medicina ou de recorrer a comissões de ética em pesquisa quando aplicável.

No campo da regulação da prática médica, o Conselho Federal de Medicina (CFM) lembra que dispõe de normas atualizadas para orientar a divulgação ética da prática médica nas mídias sociais. Um exemplo é a sua resolução que exige transparência sobre procedimentos, casos e potenciais efeitos adversos quando se divulga conteúdo médico.

Segundo o CFM, o combate à desinformação depende da “checagem ativa” das plataformas digitais e de uma atuação articulada entre conselhos profissionais, Estado e mídia — de modo a evitar que conteúdos enganosos se espalhem livremente.

Desinformação alimenta recuo na vacinação

A persistência de narrativas antivacina coincide com um preocupante cenário de queda nas coberturas vacinais no Brasil. Em 2024, o país voltou a figurar entre os que registram altos índices de crianças não vacinadas: segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da UNICEF, cerca de 229 mil crianças não receberam sequer a primeira dose da vacina DTP — essencial contra difteria, tétano e coqueluche.

Um estudo de 2022, realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia, entrevistou mais de 2 mil pessoas em municípios brasileiros e identificou que, embora a maioria reconheça vacinas como importantes, seguras e necessárias (respectivamente 86,7 %, 75,7 % e 69,6 %), quase metade (46,7 %) acredita que vacinas podem causar efeitos colaterais graves — e 40 % demonstram desconfiança em empresas farmacêuticas, suspeitando que ocultem riscos.

Para especialistas, esse quadro evidencia o impacto persistente da desinformação: a circulação de conteúdos falsos fragiliza a confiança nas vacinas e em instituições científicas fundamentais à saúde pública.

Caminhos para solução: educação, cooperação e moderação de plataformas

Diante do fenômeno, a ABC defende uma estratégia de longo prazo: incorporar letramento científico e informacional nos currículos escolares, promovendo desde cedo a capacidade de distinguir evidência confiável de pseudociência. Também defende o fortalecimento da comunicação pública de instituições de ensino e pesquisa, para aproximar ciência e sociedade.

Além disso, as iniciativas combinam a atuação de conselhos profissionais, agências reguladoras, plataformas — que devem rotular ou remover conteúdos falsos — e o próprio poder público, numa resposta articulada multidimensional ao problema.

Segundo a AGU, já há registro de remoção de postagens que associavam vacinas a doenças graves (como HIV), venda de “cartões de imunização” e medicamentos sem comprovação, especialmente em grupos e canais que atuavam fora de bases científicas.

O recente movimento de autoridades e sociedades científicas para coibir a propagação de desinformação sobre vacinas expõe a gravidade de uma ameaça que vai além das fake news: ela mina a confiança pública em estratégias fundamentais de saúde coletiva. Ao combinar regulação, fiscalização, educação científica e responsabilização ética, o país dá passos importantes — mas ainda enfrenta o desafio de neutralizar narrativas pseudocientíficas enraizadas em redes sociais e aplicativos de mensagens.

Se o combate for bem conduzido, há espaço para reconstruir a confiança na vacinação e evitar retrocessos nos índices de imunização. Caso contrário, o risco é real: doenças que já estavam controladas podem voltar a circular.

Com informações do Futuro da Saúde

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