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Dieta saudável é arma contra surto de obesidade no Brasil, diz pesquisadora do Instituto de Saúde

A obesidade é uma doença que afeta 17% da população do Brasil, segundo a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012), realizada pelo Ministério da Saúde. Ainda de acordo com a pesquisa, 51% dos brasileiros, maiores de 18 anos, está acima do peso ideal.

Para comentar sobre o assunto, o Instituto de Saúde (IS) conversou com uma de suas pesquisadoras, Silvia Regina Dias Medici Saldiva, mestra e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em estado nutricional, obesidade, alimentação complementar em crianças e política nacional de alimentação e nutrição. Confira a entrevista a seguir.

IS – Quais são as causas da obesidade?

Silvia Saldiva – A obesidade é multifatorial resultante da interação de fatores genéticos, metabólicos, sociais, comportamentais e culturais, causa forte impacto tanto na saúde quanto no bem-estar psicológico e, principalmente, na qualidade de vida do individuo. Podemos dizer que o excesso de peso é quase uma epidemia, pois atinge cerca de 45% da população adulta brasileira. Define-se obesidade como sendo o excesso de gordura corporal relacionado à massa magra. Para uso clínico e epidemiológico são usadas medidas antropométricas para avaliar o estado nutricional do indivíduo. O método mais prático e fácil é a relação do Peso corporal com a Altura, conhecido com Índice de Massa Corpórea (IMC), que é calculado dividindo-se o peso, expresso em quilogramas, pela altura, expressa em metros e elevada ao quadrado. Na população adulta é considerada obesa a pessoa que tem um IMC >=30Kg/m2.

IS – De que forma uma dieta saudável pode ser incentivada desde a infância? E como ela auxilia uma criança a não se tornar um adulto obeso?

Silvia Saldiva – Uma dieta saudável deve ser incentivada desde o nascimento, iniciando-se com o aleitamento materno exclusivo, sem água, chá e outros alimentos até os 6 meses de idade, e após essa idade, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até dois anos de idade ou mais. Uma alimentação complementar saudável é composta de cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes. Deve-se evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas, nos primeiros anos de vida e usar sal com moderação. Durante toda infância, adolescência e vida adulta consumir verduras, legumes e frutas, evitando-se salgadinhos, frituras, sanduiches e fast foods.

IS – Ainda sobre alimentação na infância, como a publicidade e a propaganda influenciam o consumo de alimentos que não são saudáveis por parte desse público?

Silvia Saldiva – A propaganda é o maior inimigo da alimentação saudável, pois apresenta um alimento extremamente processado, cheio de corantes, gorduras, sal e etc., como sendo um alimento saudável por conter vitaminas e proteínas. A propaganda ainda diz para a mãe que esse tipo de alimento é essencial para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança. Outro subterfúgio é aliar um brinde de brinquedo com o alimento. Existem inúmeras estratégias de venda dos alimentos ultraprocessados, inclusive na altura das prateleiras para venda de salgadinhos e bolachas, além das guloseimas na boca do caixa, que incentivam o consumo de quem aguarda na fila. Apesar de haver legislação para isso, ela ainda é bastante ineficaz.

IS – Como a situação socioeconômica de um indivíduo influencia a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável?

Silvia Saldiva – Eu acho que isso na verdade passa pela educação, porque um indivíduo com baixa escolaridade não exerce seu poder de cidadania, e desconhece o seu poder de escolha. Sendo assim, ele fica refém das propagandas, do acesso fácil, da novidade. Por exemplo, o macarrão instantâneo, que é um alimento ultraprocessado sem nenhuma propriedade nutritiva, e que custa menos de R$1,00. É muito atrativo, difícil não resistir. Em relação a atividade física, as pessoas acreditam que, para fazer exercícios físicos, dependem de uma academia, mas estão equivocadas. O hábito de caminhar também é uma atividade física e você pode adquiri-lo no dia-a-dia, indo e vindo da escola, faculdade ou trabalho. Quando você já estiver mais treinado, pode aumentar o ritmo ou a distância. Porém, temos problemas em relação a isso. Há violência e as calçadas são ruins, mas é possível, sim, adquirir esse hábito. Faço isso diariamente.

IS – Em sua opinião, há empenho por parte das autoridades governamentais para se resolver o problema da obesidade?

Silvia Saldiva – Sim. Existe um empenho internacional e do próprio Ministério da Saúde no combate à obesidade, por tratar-se de um problema de saúde pública e que leva às doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, canceres, e etc. Resultados mostram que a obesidade está relacionada a 60% da mortalidade mundial, 45% da morbidade global, 2/3 do total de óbitos no Brasil e 69% dos gastos referentes à atenção à saúde no Brasil. Existem muitas estratégias, programas e pactos para auxiliar no combate à obesidade, porém é muito difícil implementar frente à explosão da mídia. Como profissionais da saúde, precisamos ainda de muito esforço e luta para ver esse quadro mudar.

Com informações do Instituto de Saúde

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