Neste ano, o Estado de São Paulo já tem 83 mortes por dengue confirmadas. Porém, mesmo depois de um crescimento de mais de 600% no número de vítimas fatais da doença entre 2023 (293) e 2024 (2.101), a Secretaria de Estado da Saúde (SES) “mantém os laboratórios de pesquisa da doença sem condições mínimas para operar”.
A advertência é da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que acompanha com apreensão a informação de que o sorotipo 3 da dengue voltou a circular no Brasil, conforme estudo publicado no Journal of Clinical Virology. O sorotipo 3 foi detectado em São José do Rio Preto, noroeste de São Paulo, “e pode levar a um agravamento da epidemia no Estado”, segundo a APqC.
“Desde 2020, portanto, mais de quatro anos depois da aprovação da lei que extinguiu a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), a estrutura essencial para investigar a evolução de doenças endêmicas, como dengue, zika, febre amarela, chagas, dentre outras, não foi incluída na composição administrativa do Instituto Pasteur, da Secretaria de Estado da Saúde. Sem isso, o trabalho de pesquisa científica está comprometido”, revela nota emitida pela associação.
“Ao todo, são mais de dez laboratórios. Além disso, a extinção da Sucen fez com que equipes de vigilância e as de pesquisa fossem separadas em instituições diferentes, em um flagrante prejuízo para o controle destas doenças, já que o Estado perde essa coordenação necessária para o sucesso do trabalho”, prossegue.
”Com a emergência climática, que provoca o aumento nas temperaturas, análises empíricas já demonstram uma mudança no comportamento do vetor responsável pela transmissão da dengue, o Aedes Aegypti. A eclosão dos ovos em água parada, que antes poderia levar até sete dias, agora pode ocorrer em apenas três, acelerando a reprodução do mosquito”, explica a APqC.
No entender da entidade representativa, somente a pesquisa científica pode orientar quais medidas são necessárias para conter o avanço da epidemia, mas São Paulo, que já foi referência neste trabalho, tem sido negligente. “Equipamentos de laboratórios que podem custar mais de meio milhão de reais não passam por manutenção há anos”.
As autoridades estaduais precisam tomar as providências necessárias para que seja reativado o trabalho de pesquisa científica e vigilância, como já realizado pela Sucen em um passado recente, diz ainda a APqC. “Somente o conhecimento poderá apontar os melhores caminhos para o enfrentamento dessas doenças. Salvar vidas é um dever do Estado, não uma escolha”.
Fonte: Adusp / Foto: SindSaúde