
O Centro de Engenharia e Automação (CEA) do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), referência em inovação tecnológica para a agricultura familiar e média, enfrenta uma incerteza que pode comprometer décadas de avanços científicos. A indefinição do Governo do Estado de São Paulo sobre a manutenção de sua área — que corre risco de ser leiloada — expõe a fragilidade das políticas públicas para ciência e tecnologia sob a gestão de Tarcísio de Freitas. A sanha privatista, que já vinha desmantelando institutos públicos, agora coloca em xeque projetos essenciais para o setor agrícola, sem garantir que a alienação das terras não interrompa pesquisas em andamento.
Apesar das promessas da Secretaria de Agricultura de que as atividades do CEA não seriam prejudicadas, a falta de transparência nos planos é alarmante. Estudos sobre quais áreas serão destinadas ao leilão ainda não foram concluídos, e a possível audiência pública parece mais um protocolo burocrático do que um espaço real de diálogo. Enquanto isso, a comunidade científica é deixada em suspense, sem saber se laboratórios, campos experimentais e estruturas históricas — como o prédio da primeira escola de tratoristas do país — serão preservados ou sucateados.
O diretor do CEA, Hamilton Ramos, tenta amenizar os temores, destacando negociações com o governo, mas a realidade é que a pressão por “novos usos” para a área — como a proposta de um Parque Tecnológico — ignora a vocação agrícola do local. A Etec Benedito Storani, vizinha ao centro, é um símbolo dessa tradição, mas o risco é que o avanço imobiliário ou interesses privados prevaleçam sobre a pesquisa pública. O desmonte não começou agora: há duas décadas, o subfinanciamento e a precarização vêm minando institutos como o IAC, e o governo atual apenas acelera o processo.
O que está em jogo
O CEA não é apenas um conjunto de prédios, mas um polo de desenvolvimento tecnológico acessível a pequenos produtores, justamente os mais negligenciados pelo agronegócio industrializado. Projetos como a colhedora mecânica de café — pioneira no mundo — e máquinas para viticultura e cana-de-açúcar em pequena escala nasceram ali, preenchendo lacunas que o mercado não cobria. Programas como o Aplique Bem, que treina agricultores no uso seguro de defensivos, e pesquisas com drones para pulverização também dependem da infraestrutura do centro.
Se áreas forem perdidas, protótipos em desenvolvimento — como equipamentos para poda de uva ou colheita de cana artesanal — podem ser interrompidos, afetando diretamente produtores que não têm alternativas comerciais. Além disso, a possível fragmentação do CEA inviabilizaria iniciativas integradas, como o programa Quepia, que reduziu em 60% as reprovações de EPIs agrícolas no país e hoje tem reconhecimento internacional.
Mobilizar ou perder
A situação do CEA é emblemática de um projeto maior: o esvaziamento da pesquisa pública em favor de uma falsa eficiência privada. Sem pressão social, o governo seguirá tratando ciência como custo, não como investimento. A comunidade científica e a sociedade precisam exigir transparência e defender a manutenção integral do centro — antes que o leilão vire mais um capítulo na história do desmonte do Estado.