O monitoramento dos vírus circulantes no Brasil é cada vez mais importante para o combate das doenças virais e o desenvolvimento de estratégias de saúde pública capazes de lidar com as particularidades de cada região. Esse é um dos trabalhos realizados pelo Instituto Butantan por meio do Centro para Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS): a vigilância genômica dos vírus causadores da dengue, influenza e Covid-19, com a ampliação do escopo de treinamentos técnicos em Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) de todo o país.
As capacitações proporcionam aos Lacens um intercâmbio tecnológico, acesso à plataforma de sequenciamento de ponta, insumos e suporte em bioinformática para análise de dados. Recentemente, a equipe do CeVIVAS esteve na Bahia, no Maranhão, no Mato Grosso, em Minas Gerais, Rondônia, Roraima e no Distrito Federal para conhecer os laboratórios e apoiar as equipes locais na adequação dos protocolos para o sequenciamento dos vírus DENV, influenza e SARS-CoV-2.
“O monitoramento genômico necessita de uma constância e regularidade para que os laboratórios tenham um retrato atual dos vírus que circulam na região. A ideia dos treinamentos é garantir que os processos sejam verdadeiramente entendidos para que eles possam ser adaptados à realidade de cada estado”, explica o tecnologista do Laboratório Estratégico de Diagnóstico Molecular do Instituto Butantan Pedro Cattony, um dos responsáveis pelos treinamentos.
O sequenciamento é uma importante ferramenta para o combate de doenças infecciosas. Com um mapeamento ativo dos vírus é possível estudar sua evolução, características e modos de transmissão, contribuindo para o desenvolvimento de planos de prevenção e tratamentos mais eficazes.
Os treinamentos estabelecem uma referência inicial aos profissionais dos Lacens, mas o trabalho do CeVIVAS, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Fundação Butantan, não para por aí. A equipe do Butantan continua acompanhando as métricas para saber se os processos evoluíram e como é possível contribuir para potencializar ainda mais o monitoramento dos três vírus.
“O que mais surpreendeu nesses treinamentos é que os laboratórios não ficam devendo em nada em estrutura. Os gargalos estão na disponibilidade de insumos como plásticos, reagentes e outros instrumentos de laboratório”, diz Pedro.
Mapeamento nacional
Com o suporte de laboratórios parceiros em várias regiões do Brasil, o CeVIVAS pode realizar estudos sobre a história evolutiva dos vírus, além de identificar as variantes presentes nas diferentes áreas do país e suas relações com os distintos climas.
A troca e a transferência de conhecimento entre o Butantan e os laboratórios são também aspectos fundamentais para que os pesquisadores trabalhem de forma colaborativa, com foco no avanço da saúde pública no Brasil.
“A colaboração entre o CeVIVAS e os laboratórios possibilita que o Butantan tenha dados regionais com robustez estatística, e isso ajuda a entender a realidade de como esses três vírus estão se comportando no Brasil. Além disso, os dados podem nos ajudar a melhorar as vacinas”, complementa o tecnologista.
Os primeiros passos para a criação do CeVIVAS foram dados durante a pandemia da Covid-19, quando a equipe do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan realizou mais de 50 mil sequenciamentos do vírus SARS-CoV-2 no estado de São Paulo, expondo qual era o cenário pandêmico e as novas cepas encontradas em cada região paulista. Em funcionamento desde o final de 2022, o trabalho foi estendido para envolver o acompanhamento e sequenciamento dos vírus da dengue e influenza em diversos estados brasileiros.
Fonte e foto: Instituto Butantan