Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo

Atua na defesa dos Institutos Públicos de Pesquisa Científica do Estado de São Paulo

Articulações eleitorais para 2026 em São Paulo esvaziam Alesp e travam reuniões de líderes

Os deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) estão há mais de um mês sem se reunir no Colégio de Líderes, que tradicionalmente define, às terças-feiras, a pauta de votações da semana. Desde 19 de agosto, o colegiado não se encontra. No plenário, o ritmo também foi marcado pela paralisia: em todo o mês de dezembro, apenas dois projetos foram apreciados e aprovados, ambos de autoria do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Parte da oposição atribui o esvaziamento da pauta na Assembleia aos movimentos de bastidor do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de sua base aliada, já de olho na disputa presidencial de 2026. A avaliação é que, com os principais projetos de interesse do Executivo já aprovados, o plenário perdeu dinamismo, enquanto as articulações eleitorais ganharam fôlego.

Em setembro, Tarcísio esteve em Brasília em duas ocasiões para tratar do projeto de lei que prevê anistia a condenados pelo 8 de janeiro e para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sentenciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por sua participação na tentativa de golpe de Estado. Com Bolsonaro fora da disputa em 2026, Tarcísio passou a ser tratado nos bastidores como um dos principais nomes para herdar o capital político do ex-presidente. 

Publicamente, porém, o governador tem rechaçado a hipótese de uma candidatura presidencial. Caso o governador opte por não disputar a reeleição para concorrer à Presidência da República em 2026, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), já sinalizou estar disposto a se candidatar para o comando do Palácio dos Bandeirantes. “Caso o grupo entenda que isso é o melhor, meu nome está à disposição”, disse ao Brasil de Fato em junho deste ano

De acordo com a oposição, o presidente reduziu a presença no comando da Casa e intensificou a agenda ao lado de Tarcísio de Freitas. As redes sociais de André do Prado mostram uma agenda recheada de inaugurações de obras e encontros com prefeitos e vereadores em diferentes regiões do Estado.

Na última semana, ele acompanhou Tarcísio em Campinas, na entrega de máquinas agrícolas, e em Guarulhos, na inauguração de duas estações de tratamento de água e esgoto. Na capital paulista, marcou presença na cerimônia de entrega de novas viaturas para os Comandos de Policiamento da Capital (CPC) e Metropolitano (CPM).

Já nesta terça-feira (30), o deputado voltou a dividir palanque com o governador no anúncio da construção do Complexo Viário do Alto Tietê, entre Suzano e Poá. “Sigo acompanhando cada etapa dessas obras que só são possíveis graças ao apoio do governador Tarcísio de Freitas”, registrou em seu perfil no Instagram.

Fontes próximas ao governador, porém, contestam a leitura da oposição e atribuem a baixa movimentação legislativa à falta de projetos estruturantes do Executivo na pauta. Segundo parlamentares, as propostas em tramitação, tanto da situação quanto da oposição, são de baixo impacto, muitas vezes de caráter meramente político, e acabam sendo vetadas. 

Além disso, há um acordo informal entre as bancadas para que projetos de autoria de deputados só sejam apreciados quando há consenso, o que resulta em votações rápidas e praticamente sem debate.

No tabuleiro eleitoral, a avaliação é que a oposição já se articula em torno das candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência e de Fernando Haddad ao governo paulista, ainda que o nome do ministro da Fazenda não esteja circulando publicamente como candidato. Da base governista, no entanto, as fontes falam em indefinições: Tarcísio de Freitas reafirma que não pretende disputar a reeleição, enquanto não há consenso sobre quem será o nome da direita para a sucessão presidencial.

Projetos votados em setembro

Em setembro, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 27/2025, que indicou Wagner de Campos Rosário para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

À época ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Rosário participou, em 5 de julho de 2022, de uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros integrantes do primeiro escalão. No encontro, foi discutido um relatório da CGU que validava a confiabilidade das urnas eletrônicas.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou em regime de urgência o Projeto de Lei 410/2025, que autoriza a venda de até 720 mil hectares de terras públicas devolutas por valores de até 90% inferiores ao preço de mercado, atingindo principalmente áreas do Pontal do Paranapanema. A região é uma das mais degradadas ambientalmente no estado e marcada por conflitos fundiários históricos.

O conjunto das áreas foi estimado em R$ 9,6 bilhões, mas com os descontos previstos a arrecadação deve se limitar a R$ 1,9 bilhão, o que equivale a uma desvalorização média de 80%. Caso estivesse vigente o modelo anterior, estabelecido pela Lei nº 4.925/1985, o retorno financeiro para o estado seria de, no mínimo, R$ 4,8 bilhões.

No último dia do mês, terça-feira (30), os deputados iniciaram a discussão do Projeto de Lei Complementar 9/2025, de autoria do governador, que propõe a criação da carreira de Pesquisador Científico, mas sem deliberações. 

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), contrária ao projeto, afirma que a proposta esvazia a Lei Complementar nº 125 de 1975, que já regulamenta a carreira. Em nota, a entidade alerta que “o novo projeto, longe de fortalecer essa carreira essencial, representa grave ameaça à sua continuidade, autonomia e valorização, além de fragilizar toda a estrutura pública de pesquisa científica, em especial o patrimônio científico, histórico-cultural e ambiental contido nas Estações e Fazendas Experimentais e demais áreas protegidas do Estado de São Paulo”.

Fonte: Brasil de Fato / Foto: Alesp

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