Foto: Alessandro Torres/Correio Popular
Há décadas o Instituto Agronômico (IAC) tem sido assediado visando a cessão de próprios ou áreas para outros órgãos públicos ou iniciativa privada, tanto nas unidades de Campinas quanto nas demais estações experimentais. Inédita, ao menos nos últimos 50 anos, é a iniciativa do Governo do Estado de São Paulo de fragmentar, retalhar, a Fazenda Santa Elisa, o principal centro de experimentação do IAC visando a sua paulatina alienação.
Se o alto escalão do governo do nosso estado não sabe, ao menos seus assessores menos graduados, supostamente especialistas em Agricultura, deveriam lhe informar que este centro experimental já a partir dos idos de 1890 iniciou estudos de introdução, aclimatação e cultivo de plantas de clima temperado para diversificação da agricultura brasileira, a partir da década de 1930 iniciou estudos pioneiros, no Brasil, de melhoramento genético de cultivos de interesse alimentício ou industrial, no terço final do século passado criou vários bosques de espécies nativas, além de preservar áreas de cerrado e Mata Atlântica, com suas nascentes e córregos, sem descuidar da atividade ainda existente de produção de sementes certificadas de um sem número de grãos e leguminosas.
A Fazenda Santa Elisa, que abriga o Centro Experimental de Campinas do IAC, ainda hoje – com as dificuldades que enfrenta – é produtiva em cada um de seus palmos ou hectares seja na atividade agrícola seja na de pesquisa científica e tecnológica na área de Agricultura, para a qual é imprescindível a manutenção, em seus terrenos, lotes, glebas, das mais de duzentas e cinquenta espécies de interesse agrícola, das cerca de cinquenta coleções de germoplasma que têm permitido o contínuo melhoramento genético de espécies de interesse econômico, bem como dos inúmeros espécimes de palmeiras, árvores, bambus, frutíferas, raízes, plantas aromáticas, medicinais e outras ervas, conjunto biodiverso que um dia permitiu ao IAC requisitar-lhe a condição de Jardim Botânico Agrícola.
Estripar a Fazenda Santa Elisa, o Centro Experimental de Campinas, em nome de uma suposta improdutividade é, se não – esperamos – induzida falta de conhecimento, vilania de lesa-pátria para atender a quais inconfessáveis pequenos interesses? É necessária a preservação eficiente desta área para o bem menos do IAC do que para a agricultura paulista e a brasileira, como atestam alguns poucos exemplos recentes o avanço da heveicultura, da cotonicultura, da canavicultura, entre outras, no estado de São Paulo.
Trocar toda a diversidade genética, florística e ambiental, garantidora de futuras e necessárias seguranças alimentar, energética e ambiental, por alguns pouquíssimos recursos extinguíveis em curtíssimo prazo, como sói acontecer com alienações como a que se pretende, é crime contra o futuro de nossas populações.
Planejar e executar seriamente a revitalização, a recuperação da eficiência de estruturas como a Fazenda Santa Elisa, de instituições como o Instituto Agronômico e outros institutos de pesquisa do nosso estado é muito mais proveitoso, a médio e longo prazos, para a economia de São Paulo do que a renitente protelação em revitalizá-los.
Não cabem mais declarações de populismo mequetrefe para regozijo de ouvintes inconsequentes: é necessário pensar no estado como indutor de desenvolvimento econômico e social, é necessário proteger e aprimorar suas estruturas. Extinguir pouco a pouco – um porcento hoje, dois porcento amanhã, vamos ousar dez, quinze porcento – as estruturas do estado, somente ampliarão a desigualdade, a violência, a desumanidade em nossas terras. Isto não é política pública, é a barbárie. Por isso digamos não ao desmembramento, ao retalhamento, à alienação, à venda da Fazenda Santa Elisa. Clareza e honradez, senhores dirigentes.
Marco Antonio Teixeira Zullo, Pesquisador e ex-Diretor Geral do Instituto Agronômico (IAC)