
Cientistas destacam o avanço dos estudos com a palmeira, que pode impulsionar biocombustíveis e outros setores, mas tem futuro ameaçado por possível privatização de terras onde estão plantios experimentais.
Os pesquisadores Carlos Augusto Colombo e Joaquim Adelino de Azevedo Filho, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), manifestaram preocupação com a possível venda de áreas públicas destinadas à pesquisa agrícola no Estado de São Paulo. Um dos projetos em risco é o desenvolvimento da primeira cultivar brasileira de macaúba, palmeira nativa com alto potencial para produção de óleo vegetal—matéria-prima estratégica para biocombustíveis como biodiesel e SAF (Combustível Sustentável de Aviação), além de outros usos industriais.
No contexto das mudanças climáticas e da urgência por descarbonização, especialmente no setor de energias renováveis, a macaúba surge como uma alternativa promissora. Grandes grupos econômicos, como a Acelen, e instituições públicas, incluindo o IAC e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta Regional), estão investindo no desenvolvimento da cadeia produtiva da espécie. No entanto, o principal obstáculo para expandir os plantios—que hoje não passam de 10 mil hectares—é a falta de uma cultivar adaptada e melhorada geneticamente.
Há dez anos, o IAC estuda uma população de macaúbas que deve se tornar a primeira cultivar comercial do país, com lançamento previsto nos próximos três anos. Essas plantas, no entanto, estão em uma das áreas sob risco de venda pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA)—a fazenda conhecida como “São José”, localizada em frente à escola de mesmo nome.
“Perder essa área significaria desperdiçar uma década de trabalho e atrasar o desenvolvimento de uma cultura essencial para a bioeconomia paulista”, alerta Colombo. Azevedo Filho reforça: “A macaúba pode colocar São Paulo na vanguarda dos biocombustíveis sustentáveis, mas isso depende da manutenção de nossas estruturas de pesquisa”.
Potencial estratégico
A macaúba se destaca pela alta produtividade de óleo, superior a outras oleaginosas, e pela adaptação a terras marginais, evitando competição com áreas de produção de alimentos. Seu óleo pode abastecer indústrias de biocombustíveis, cosméticos e alimentos, alinhando-se às políticas estaduais de transição energética.
A APqC ressalta a necessidade de proteger as áreas públicas de pesquisa, fundamentais para inovações que impulsionam o agronegócio e a sustentabilidade. “Vender essas terras é abrir mão de soberania tecnológica em um setor crucial para o futuro”, concluem os pesquisadores.