
Governo de São Paulo convocou audiência pública com comunidade científica para discutir alienação de áreas de pesquisa
São Paulo, abril de 2025 – A venda de fazendas experimentais que pertencem ao Estado de São Paulo tem gerado forte reação da comunidade científica, que alerta para os riscos à segurança alimentar da população. As áreas são referência há décadas pelos estudos realizados pelos institutos públicos de pesquisa ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA). Tecnologias pesquisadas ao longo de anos levaram ao desenvolvimento de soluções agropecuárias, como novas cultivares, técnicas de manejo e práticas sustentáveis.
“A segurança alimentar das próximas gerações depende do investimento que fazemos hoje em pesquisa e inovação, e o Estado de São Paulo sempre esteve na vanguarda do conhecimento. Sem áreas de experimentação, não é possível testar e validar soluções que garantam produtividade, adaptação climática e sustentabilidade”, afirma Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC.
A entidade alerta que a pesquisa tem enfrentado falta de pesquisadores e de servidores de carreiras de apoio há anos. Conforme levantamento da APqC, atualmente, há mais de oito mil cargos vagos nos institutos que atuam nas áreas de agricultura, meio ambiente e saúde.
Em uma publicação na terça-feira (8/04), no Diário Oficial do Estado, a SAA convocou a comunidade científica para uma audiência pública e listou 35 áreas que estão na mira do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para serem vendidas. Entre as unidades ameaçadas está a Fazenda Experimental que fica na Estância Turística de São Roque. Especializada em agroecologia, foi nesta unidade que foram descobertas variedades de uvas orgânicas, além de um trabalho de melhoramento da alcachofra, a partir de estudos comandados pelo pesquisador Sebastião Tivelli.
Hoje, o vinho orgânico produzido a partir dessa variedade de uva descoberta é premiado internacionalmente, além de fomentar o turismo, base da economia de São Roque.
Outra unidade na lista é a Fazenda Santa Elisa, em Campinas, referência em pesquisas do Instituto Agronômico (IAC). Nela são realizados diferentes estudos e uma das áreas cobiçadas para venda abriga parte do maior banco de germoplasma de café do mundo e um dos mais importantes do mundo.
Estudos com macaúba, palmeira que se desponta como alternativa para biocombustíveis, têm plantado no local dois hectares que, em breve, começarão a produzir a primeira cultivar comercial do país. Ambas integram um conjunto de 39 áreas monitoradas pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), ligadas à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA).
A audiência pública convocada pelo Governo de São Paulo ocorrerá próxima segunda-feira (14/04), com objetivo de discutir a proposta de alienação dessas áreas.
“É uma irresponsabilidade com a história e o patrimônio de São Paulo se falar em venda de área de pesquisa sem apresentar um único estudo sobre os impactos dessas medidas para as pesquisas em andamento, o meio ambiente e para a economia do Estado, já que essas áreas são fundamentais para o desenvolvimento regional, a produção de alimentos e os bons resultados atingidos pelo agronegócio paulista”, reforça Lutgens.
A associação defende que o Estado reforce os investimentos em ciência e tecnologia, especialmente em um contexto de emergência climática. Segundo a entidade, estudos desenvolvidos em fazendas experimentais são fundamentais para enfrentar problemas como a escassez hídrica, a contaminação de mananciais e o aumento da temperatura em diferentes regiões paulistas.
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