Entre 30/9 e 4/10 o Instituto Butantan promoveu o workshop DELTA Joint Effort, iniciativa que busca analisar, por meio de ferramentas estatísticas, os impactos das alterações climáticas e ambientais dos últimos 30 anos sobre a epidemiologia da dengue e leishmaniose visceral no Brasil. Ao longo de cinco dias, pesquisadores do Brasil e da América Latina trabalharam colaborativamente para elaborar métodos de busca e organização de dados relacionados às doenças, a fim de compor um relatório preliminar a ser entregue ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) até agosto de 2025.
O DELTA (acrônimo de Dengue, Leishmaniose e Transformações Ambientais) é um projeto de pesquisa composto por cientistas da divisão de Mudanças Climáticas e Saúde do Grupo de Estudos em Saúde Planetária do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP). Ele foi criado a partir de um edital de incentivo do CNPq voltado para trabalhos em que o foco fossem doenças que podem ser influenciadas por mudanças climáticas.
A proposta do grupo foi mensurar e apresentar em um banco de dados, de maneira ordenada e reprodutível, com metodologia padronizada, projeções dos impactos e alterações que mudanças climáticas e ambientais – como aumento irregular de temperatura, expansão da área urbana e desertificação – geram sobre a dengue e leishmaniose visceral no Brasil. As duas doenças, somadas, causam entre 500 mil e 1 milhão de óbitos anualmente, segundo o Ministério da Saúde.
Durante o workshop, os pesquisadores discutiram ideias e metodologias de análise de dados, analisaram trabalhos estatísticos e fizeram visitas técnicas às instalações do Laboratório de Parasitologia do Butantan. Essa é a primeira vez que o grupo se reuniram presencialmente.
A missão do Butantan dentro da iniciativa é dar atenção especial às mudanças climáticas que afetam a dengue, com Lincoln Suesdek como coordenador desse segmento de pesquisa. As nuances da leishmaniose visceral ficaram a cargo da biomédica e pesquisadora do Instituto Pasteur Vera Lúcia Fonseca de Camargo Neves. Já a coordenação geral do grupo foi feita pela doutora em Ciência Animal e docente da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) Márcia Nunes Bandeira Roner.
Também participaram do projeto cientistas do Instituto Adolfo Lutz, do Instituto Conmemorativo Gorgas de Estudios de la Salud, do Panamá, e da USP. O projeto foi apoiado financeiramente pelo CNPq e pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Saúde e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde.
Método de trabalho e o que esperar para o futuro
O DELTA trabalha com dois eixos de pesquisa: modelagem e produções tecnológicas, analisando as variáveis climáticas e como elas influenciam nas taxas, estimativas e distribuição de agravos em saúde; e emergências em saúde pública e seus impactos, desenvolvendo modelos de predição de eventos climáticos extremos e seus desdobramentos na saúde pública do Brasil.
Nas duas linhas, há uma preocupação em utilizar modelos estatísticos inferenciais, exploratórios e inteligência artificial para identificar de que maneira as mudanças climáticas influenciam na incidência e distribuição da dengue e leishmaniose visceral. Os dados, que são coletados por plataformas digitais e bancos científicos, como SINAN, Terraclimate, Wordclin e Mapbiomas, servem para produzir mapas de risco – que identificam quais regiões apresentam maiores problemas com as duas doenças e de que forma as mudanças climáticas e ambientais as afetam, além de gerar previsões para o futuro, baseadas na continuidade ou não de eventos climáticos específicos.
O principal objetivo é entender a real proporção e os impactos das mudanças climáticas em relação à leishmaniose e à dengue ao longo dos últimos 30 anos para facilitar a criação de medidas de prevenção assertivas. As alternativas atuais demandam muita mão de obra e dão pouco retorno, como a fiscalização de casa a casa no que tange à dengue, por exemplo. Com os dados organizados, a informação será de livre acesso para a população, para a comunidade científica e para o Ministério da Saúde, que pode definir políticas mais eficazes de erradicação ou controle das doenças.
Fonte: Com informações do Instituto Butantan (Foto: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan)