Quem já esteve na universidade provavelmente ouviu falar sobre a plataforma Lattes, que reúne currículos acadêmicos de pesquisadores e professores que atuam no Brasil. O que muitos podem não saber é que o programa foi batizado em homenagem ao cientista brasileiro César Mansueto Giulio Lattes, que completaria 100 anos nesta quinta-feira.
O físico tornou-se conhecido por descobrir a partícula subatômica méson pi (píon), que rendeu o Prêmio Nobel de Física — e uma posterior controvérsia — ao norte-americano Cecil Frank Powell, em 1995.
Nascido em Curitiba (PR) no dia 11 de julho de 1924, Lattes se graduou em Física e Matemática na Universidade de São Paulo (USP). Depois, tornou-se um dos pupilos do professor ucraniano naturalizado italiano Gleb Wataghin, que fora contratado para assumir o Departamento de Física da USP. Lattes é tido até hoje como o mais brilhante dos jovens físicos daquela geração, que contou com nomes como Mário Schenberg (considerado o maior físico teórico do Brasil) e José Leite Lopes (responsável pela primeira predição do bóson Z).
Lattes se destacou por apoiar diversas iniciativas que alavancaram a ciência e a pesquisa no Brasil, como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro, em 1949, o atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951, e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em 1952.
O caminho para a descoberta
Sua maior façanha, porém, foi a descoberta de uma das subpartículas responsáveis pela coesão do núcleo do átomo, o que inaugurou um novo campo de estudos da física. Na época, uma das principais questões da física atômica era saber como os prótons mantinham-se unidos no núcleo dos átomos. Intrigado com a questão, Lattes, acompanhado do professor Giuseppe Occhialini, foi para a Universidade de Bristol, na Inglaterra, em 1946, onde integrou a equipe do H. H. Wills Laboratory, chefiado por Cecil Frank Powell.
O méson pi
Lattes acreditava que a melhor maneira de se chegar a uma resposta para a questão subatômica era estudando os raios cósmicos em vez dos aceleradores de partículas. Por isso, em 1947, foi até o Chacaltaya, pico de 5 mil metros nos Andes Bolivianos. A ideia era “fotografar” a trajetória das partículas oriundas dos raios cósmicos por meio de chapas fotográficas de emulsão nuclear, método criado por Cecil Frank Powell.
Antes da viagem, Lattes pediu à Kodak que acrescentasse mais boro à composição das placas de emulsão nuclear. Graças a isso, a revelação das chapas fotográficas mostrou o que seria identificado como uma nova partícula atômica, o méson pi (ou píon).
A descoberta foi descrita por Lattes no artigo Processes involving charged mesons, publicado pela revista Nature em 1947. O texto é coassinado por seus colegas de laboratório, Powell, Occhialini e Hugh Muirhead. A façanha marcou o início de um novo campo de estudos, a física das partículas elementares.
Mas a injustiça não apagou o papel de Lattes na história da ciência. Pela descoberta do méson pi aos 27 anos de idade, o brasileiro até hoje é lembrado por mudar os rumos da física, dando espaço para o surgimento de um novo campo de estudos, e pelos seus esforços em desenvolver a educação e a ciência de ponta no Brasil.
Em 11 de abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 14.839/24, aprovada pela Câmara Federal, que inclui o nome do físico paranaense no livro de Heróis e Heroínas da Pátria, que fica no Panteão Tancredo Neves, em Brasília.
César Lattes morreu em 2005, aos 80 anos, em Campinas (SP).
Com informações da Revista Galileu